quinta-feira, 14 de maio de 2009

Do finalmente..

"Algumas vezes eu fiz muito mal para pessoas que me amaram. Não é paranóia não. É verdade. Sou tão talvez neuroticamente individualista que, quando acontece de alguém parecer aos meus olhos uma ameaça a essa individualidade, fico imediatamente cheio de espinhos - e corto relacionamentos com a maior frieza, às vezes firo, sou agressivo e tal. É preciso acabar com esse medo de ser tocado lá no fundo. Ou é preciso que alguém me toque profundamente para acabar com isso" - Caio Fernando Abreu



Recebi esse trecho duas semanas atrás de alguém que me conhece muito bem. Seja bom ou ruim o que o texto fala, sou eu. Destilado das minhas atitudes e medos.
Me lembro - desde que comecei com muitas coisas - a dizer que eu iria parar quando alguém realmente me amasse e me pedisse. Engraçado como eu acreditei mesmo nisso. Mas e se ninguém nunca aparecer, isso quer dizer que eu, então, nunca vou parar? Quando se tem certeza de que chegou ao limite? E se não existe limite? Acorda, caralho, ninguém vem.
Era sábado, dia 2 de maio, e eu tinha duas festas que deveria comparecer - uma num bar, outra numa casa. Perfumes caros e roupas boas não combinam com boca de fumo e conversa de traficante. Que se foda, eram apenas algumas notas de 10 reais.
No bar eu virei alguns copos de cerveja e uma caipirinha de vodca e maracujá. Falei com poucas pessoas e não me despedi de ninguém, apenas levantei e saí. De táxi fomos, eu e uma amiga, até a festa.
Saco, o ambiente nunca muda. Muitas pessoas de diferentes estilos se espalhavam pela varanda, sala e cozinha. Dentro do banheiro se ouvia a musica alta enquanto gordos, gays, princesinhas e policiais fodiam seus próprios narizes com aquela droga branca, melhor da amarela. Pia, pó, dinheiro enrolado, pra dentro, cigarro no pó cigarro na boca, cerveja e vodca.
A única coisa de diferente na festa foi a presença dela, com suas roupas e seu novo cabelo. Como eu queria entrar naquele corpo e acordar dentro dela. Rasgar suas roupas, comer o seu gosto. Mas só de estar ao lado dela já era incrível. E embora eu estivesse morrendo de medo de que ela percebesse o que estávamos fazendo, eu acabava sempre voltando.
As seis da manhã, visivelmente desorientado, hora de voltar pra casa. Não. Perfumes caros e roupas boas não combinam com boca de fumo e conversa de traficante.Sabendo que ninguém vinha, que ninguém chegaria tão logo, eu precisava - de uma forma ou de outra - parar o quanto antes.
Me bate, por favor. Eu sempre soube que eu só pararia quando algo mais sério acontecesse comigo. Mesmo aos 13 anos, dentro de carros desconhecidos, entre vinho barato e fumaça de crack, isso não me parecia tão perigoso assim. Por favor, me bate! Não me lembro da dor, na verdade me lembro de ter sido gostoso.. mas me lembro da minha língua limpando meus lábios, da minha mão com sangue e do travesseiro manchado.
Isso precisava acontecer para que eu então percebesse o que tenho feito durante um certo tempo. Precisei fazer isso.
Agora eu minto pra você, para que não tenho que saber que sempre teve razão e que eu realmente não valho nada. E minto também pra você não precisar saber das minhas burradas e se decepcionar, e acredite, pela primeira vez eu me arrependo do que fiz - e nunca antes. Acho que faço porque uma dor anula a outra, porque ninguém me ama.. Na verdade, nem eu me amo, acho.